quinta-feira, 31 de maio de 2012

Tique-taque



A mãe-tradutora acorda cedinho. Arruma a casa e a cama, porque hoje é dia de Maria, o anjo da guarda doméstico, e as coisas tem que estar nos seus lugares para que ela possa limpar.
Começa a tomar café, quase literalmente passa os olhos no jornal, termina o café, chama o filho, que dá um trabalhão pra acordar. Minutos preciosos que escorrem velozes contrastando com os movimentos em câmera lenta do filho: sai da cama, vai para o banheiro, troca a roupa, toma café, tudo supervisionado pela mãe-tradutora e acompanhado pelos muitos resmungos do filho. Precisam correr, hoje é dia de dentista. Vão até a dentista. Ela faz o tratamento e conversa. Muito. Dá para ouvir o tique-taque do relógio mental, os minutos dando tchauzinho antes de desaparecerem. Voltam para casa, no caminho o filho, claro, quer um presentinho. E a mesada. Passam na loja, mais tempo indo pelo ralo.
Voltam para casa. A mãe-tradutora ainda tem que improvisar o almoço, em meia hora. Dá uma espiadinha na internet. Uma dúvida filosófica a toma de assalto: por que todo mundo tem que postar coisas tão interesses justamente quando não temos tempo para ler?
Prepara o almoço, dá o almoço para o filho, prepara o lanche, leva o filho para a van, volta para casa pensando: agora vou ter tempo, agora vou poder trabalhar!
Espiadinha na internet, papinho rápido com os amigos pela rede. Blogs maravilhosos para ler. Passada de olhos rápida. Tique-taque, tique-taque.
Toca o telefone. Atende. Começa a trabalhar. Toca o telefone de novo. Chega entrega da lavanderia. Recomeça a trabalhar. Tique-taque.
Já está no meio da tarde! O que eu consegui produzir até agora? Tique-taque.
Toca o telefone. Marido avisando que vai se atrasar e que é a mãe-tradutora quem vai ter que ir pegar o filho na escola.
Daqui a pouco.
Vinte minutos de ida, mais vinte de volta. Tique-taque, tique-taque.
Moral da história: estou precisando arranjar mais tempo livre para poder trabalhar.

4 comentários:

  1. É, Roseli... Tb tô assim... E nem filho tenho...

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  2. Christiane Neusser Sichinel31 de maio de 2012 às 17:37

    Ufa! Que alívio ler que outros vivem igualzinho à gente,colega! Então quer dizer que somos "normais"? Que não quer dizer que só traduzo meio hora do dia, posso me chamar de tradutora mesmo assim? Obrigada por partilhar e votos para que possas encontrar logo, logo, ali na esquina aquelas horas que estão te faltando...

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  3. Eu admiro vocês mamães, viu? Eu já mal dou conta da minha vidinha de filha, mulher casada, colega e amiga que gostaria de ser mais presente, quando mais ser mãe!
    Vou mandar pra minha irmã, Roseli. Meus sobrinhos já são adultos hoje, mas, pelos meus cálculos, deve fazer uns vinte e tantos anos que ela se sente assim.

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  4. Adorei o texto! Também não tenho filhos, mas me identifiquei bastante.

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