A mãe-tradutora acorda cedinho.
Arruma a casa e a cama, porque hoje é dia de Maria, o anjo da guarda doméstico,
e as coisas tem que estar nos seus lugares para que ela possa limpar.
Começa a tomar café, quase
literalmente passa os olhos no jornal, termina o café, chama o filho, que dá um
trabalhão pra acordar. Minutos preciosos que escorrem velozes contrastando com
os movimentos em câmera lenta do filho: sai da cama, vai para o banheiro, troca
a roupa, toma café, tudo supervisionado pela mãe-tradutora e acompanhado pelos muitos resmungos do filho. Precisam correr, hoje é dia de dentista. Vão até a
dentista. Ela faz o tratamento e conversa. Muito. Dá para ouvir o tique-taque
do relógio mental, os minutos dando tchauzinho antes de desaparecerem. Voltam para
casa, no caminho o filho, claro, quer um presentinho. E a mesada. Passam na
loja, mais tempo indo pelo ralo.
Voltam para casa. A mãe-tradutora
ainda tem que improvisar o almoço, em meia hora. Dá uma espiadinha na internet.
Uma dúvida filosófica a toma de assalto: por que todo mundo tem que postar
coisas tão interesses justamente quando não temos tempo para ler?
Prepara o almoço, dá o almoço
para o filho, prepara o lanche, leva o filho para a van, volta para casa
pensando: agora vou ter tempo, agora vou poder trabalhar!
Espiadinha na internet, papinho
rápido com os amigos pela rede. Blogs maravilhosos para ler. Passada de olhos
rápida. Tique-taque, tique-taque.
Toca o telefone. Atende. Começa a
trabalhar. Toca o telefone de novo. Chega entrega da lavanderia. Recomeça a
trabalhar. Tique-taque.
Já está no meio da tarde! O que
eu consegui produzir até agora? Tique-taque.
Toca o telefone. Marido avisando
que vai se atrasar e que é a mãe-tradutora quem vai ter que ir pegar o filho na escola.
Daqui a pouco.
Vinte minutos de ida, mais vinte
de volta. Tique-taque, tique-taque.
Moral da história: estou
precisando arranjar mais tempo livre para poder trabalhar.