sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Contaminação Linguística


O Danilo Nogueira começou no blog dele e da Kelli Semolini, uma conversa sobre a questão da contaminação. Eu, muito enxerida que sou, já dei uns pitacos lá e outros tantos via Twitter e Skype. Decidimos, então, alongar a discussão via blogs, fazendo uma espécie de pingue-pongue.

O Danilo já disse muito lá no blog dele, mas ainda ficamos com umas pontas para serem amarradas ou talvez, desamarradas e transformadas numa rede.

Considero a contaminação linguística menos negativa que muita gente, afinal ela é uma das fontes de enriquecimento de uma língua. Sem esse processo, ainda falaríamos o português de Pedro Alvarez Cabral, sem nenhuma das contribuições que vieram por meio das línguas faladas pelos africanos, italianos, franceses e tantos outros.

Isso em teoria. A questão da contaminação se torna um problema quando ela ainda é recente, mas deixamos de identificá-la e passamos a utilizá-la no lugar de uma forma ou construção idônea. Aí entra a questão da contaminação versus erro.

No início, toda a contaminação é erro, até ser assimilada e utilizada a ponto de não causar mais estranhamento.

Um exemplo disso? Quando ouço alguém que diz que vai “suportar” outra pessoa no que ela precisar, quando leio que “eu não fui solicitada a fazer isso”, meus olhos e ouvidos doem e não reconheço isso como português, mas sim estruturas contaminadas vindas na maior parte do inglês.
No entanto, nem todo mundo percebe que a contaminação está ali rondando determinada palavra ou expressão, simplesmente porque, por ser mais jovem, pegou o bonde da assimilação andando (sim, eu sou do tempo do bonde) e quase não percebe mais a estrutura ou palavra contaminada como estranha.

Um exemplo disso é o “tornar-se” aplicado às profissões, debatido lá no blog do Danilo, que também me informa que a expressão “algo específico” é contaminação.

Acredito que os tradutores estejam constantemente expostos a esse "perigo", e por estarem tão mergulhados na outra língua, muitas vezes não percebem o problema.
Não vamos, porém, confundir contaminação com o simples estranhamento que a palavra ou expressão pode causar, até porque esse estranhamento pode variar de pessoa para pessoa, indo desde os puristas que acham tudo errado, até os linguistas revolucionários, que acreditam que tudo vale e tudo é certo. Isso é outra história.

Aliás, para quem for bem curioso, três palavras usadas nesse artigo não constam nos dicionários. Estarei contaminada?

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Falsi amici

Falsos amigos estão em toda a parte. Têm uma aparência familiar, amigável, simpática, mas estão só esperando para te enganar.
Alguns são bem difíceis de detectar, só a situação, o contexto, pode fazer ativar a pulga atrás da orelha e desconfiar que ali “c’è qualcosa che non va”.
Entre as línguas latinas há montes deles, e claro que o italiano não é exceção.
Alguns conservam ainda um traço semântico em comum, outros já se afastaram bastante em termos de significado.
Para quem é aprendiz (embora eu ache que sempre somos), uma lista para começar a reconhecer as armadilhas. É uma lista pequena, e às vezes, só uma acepção é um falso amigo.
Para quem já é experiente, um lembrete para ter sempre “olho vivo, faro fino e barbas de molho”, e não acreditar naquilo que parece ser, mas nem sempre é.

italiano - português - português - italiano

accidente! - caramba! - acidente - incidente

accordare - concordar - acordar - svegliarsi

andare -  ir - andar - frequentare/piano di un palazzo

aperto - aberto - aperto - stringimento

attendere - aguardar - atender - servire il pubblico/rispondere al telefono

attirare - atrair - atirar - lanciare

acetto - vinagre - azeite - olio

asilo - jardim de infãncia - asilo - ospizio

birra - cerveja - birra - bizza

boia - carrasco - bóia - boa

boa - (masc) jibóia / (fem.) bóia - boa - buona

borraccia - cantil - borracha - gomma

burro - manteiga - burro - asino

caldo - quente - caldo - brodo

calcio - futebol/cálcio - cálcio - calcio

sigaro - charuto - cigarro - sigaretta

contare - contar (contas) - contar - raccontare/narrare

decorare - decorar (arquit.) - decorar - imparare a memoria

edicola - banca de jornais - edícula - nicchia

imbrogliare - enganar - embrulhar - impacchettare

imbroglio - confusão/engodo - embrulho -  pacchetto

sperare - ter esperança - esperar - aspettare

squisito - delicioso - esquisito - strano

serra - estufa/cadeia de montanhas - serra - sega/serra

firma - assinatura - firma - ditta

guadagnare - ganhar (receber) - ganhar - vincere

patto - pacto - pato - anatra

palestra - ginásio/academia - palestra - conferenza

prego -de nada/ pois não - prego - chiodo

gomma - borracha (de apagar) - goma - amido

guardare - olhar - guardar - conservare/mettere via

legenda - lenda - legenda - sottotitolo

mais - milho - mais - più

morbido - macio - mórbido - morboso

negozio - loja - negócio - affare

occorrere - precisar, ser necessário - ocorrer - succedere

ospizio - asilo - hospício - manicomio

ospite - convidado, hóspede//anfitrião - hóspede - ospite

presunto - suposto - presunto - prosciutto

primo/a - pimeiro/a - primo/a - cugino/a

riparare - consertar - reparar - notare

rotto - quebrado/estragado - roto - strappato

salita - subida - saída - uscita

subire - sofrer - subir - salire

terzo - terceiro-  terço - rosario

tetto - telhado - teto - soffitto

tinto - pintado - tinto - vino rosso

tirare -puxar - tirar - togliere

villa - casa grande/mansão - vila - paesino